sábado, 29 de janeiro de 2011

Mãos Dadas

Eu só queria ficar de mãos dadas com você
E esquecer a noite triste, caminhar sempre na luz.
Na claridade sem palavras dos amantes,
Sentir a sua presença ao lado,
Saber que naquele momento eterno
Não preciso de nada, exceto seu beijo embriagante.
Os nossos dedos entrelaçados como vidas,
Nossos cabelos, nossos corpos entrelaçados ao amarmos.
As mãos suadas sem desfazer o laço próximo
Os corpos suados estreitando o laço máximo.
Um beijo, um abraço, um afago. Eu só queria
Andar de mãos dadas com você, por toda uma vida.
Seja na luz, seja na sombra.

Danilo Otoch

Infância.

Quando a criança era criança
Olhava a nervura das folhas
E observava a grama crescer,
Porque tinha todo o tempo do mundo.

Quando a criança era criança
Vivia sujo por fora
Sem conhecer a sujeira por dentro,
Pisava em poças d’água de chuva
E perguntava se faltava muito para chegar.

Assustava com aranhas,
Tinha medo do escuro,
Achava que tinha jacaré debaixo da cama,
E não gostava de comer abacate.

Quando a criança era criança
Não existiam cores, credos ou níveis,
Só existiam crianças e brincadeiras
E quem diria, dormia-se à noite.

Quando a criança era criança
Não sabia de guerra ou desamor,
Bomba atômica ou seqüestro.
Sabiamente ignorante que se era.

Quando a criança era criança,
Desejava ser adulto e conhecer as coisas.
Quando a criança é adulta,
Deseja ser criança de novo
E esquecer tudo que aprendeu.

Quando a criança era criança
Rezava ao pé da cama,
E pedia pelo papai, mamãe e todo mundo.
Depois não se reza mais
E só se pede para si mesmo.

Quando a criança era criança
Tudo era novidade, o vôo dos pássaros,
O mar de ressaca, uma minhoca no vaso,
À noite e o dia, sol e lua,
O tempo corria lento e tudo era grande.
Era-se feliz
Quando a criança era criança.

Danilo Otoch.

Nem Tudo.



Às vezes nem tudo pode ser dito, parece que as palavras não cabem aos sentidos, são coisas novas e as palavras são velhas.
Às vezes nem tudo pode ser ouvido, é como se os corações não batessem e no silêncio reinassem todos os sons necessários, é mais do que paz é quase esquecimento.
Às vezes nem tudo pode ser visto por mais aberto que estejam os olhos, e a escuridão impera mesmo na luz.
Às vezes nem tudo pode ser tocado, esticamos nossas mãos sedentas com dedos ávidos, cerramos nossos punhos no vazio e sentimos a dor de uma verdadeira perda.
Às vezes nem tudo pode ser cheirado, emoções não tem odor para humanos, o olfato desconhece amor ou ódio.
Às vezes nem tudo pode ser vivido, o tempo sempre acaba antes de nós e o sono vem, deixando para trás portas fechadas e janelas abertas esperando indefinidamente o saltador.
Às vezes nem tudo pode ser chorado, temos de permanecer desgraçadamente fortes no vendaval e não dobrar, mesmo que a mais leve brisa nos quebre.
Às vezes nem tudo pode ser amado; famílias, raças, religiões e outros vínculos ilusórios comandam nossos desejos e nossas vidas; distâncias são impostas, abismos são cavados e dias sobrepõem-se ao amor.
Mas sempre é valido tudo o que passamos, sempre é válida a vida,
Toda vida, existem os sonhos e os prazeres e a incompletude
Gera o desejo.
Nada é pior do que a eternidade perfeita,
Viva e deixe viver.

Danilo Otoch.

Dedicada a Monica Pieleski.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Em Outra Vida.

Quando eu tiver uma outra vida
Tentarei ser mais calmo,
Menos ácido e apressado.
Ouvirei mais as pessoas
E sorrirei mais para elas.
Estenderei-lhes mais as mãos
E as ajudarei a levantar.
Quando eu tiver uma outra vida
Não irei mais rir de seus tombos.
Tentarei ser mais fiel
E farei menos sexo e mais amor.

Se me for dada outra existência
Aprenderei a tocar um instrumento
E a lidar melhor com meus sentimentos,
Não serei rancoroso nem tão orgulhoso
Esquecerei as más lembranças
Preservarei apenas as boas
Viajarei sem destino e terei mais filhos,
Subirei em mais montes e pularei de para quedas,
Enfrentarei meus medos e não desistirei.
Mentirei menos e assim poderei me
Fitar mais no espelho.
Se eu tiver outra vida dormirei melhor
Tomarei menos remédios, irei menos a médicos,
Comprarei uma motocicleta e sentirei o vento no rosto.
Se eu tiver algum dia outra vida
Serei liberto e não escravo,
Te direi Eu Te Amo sem vergonha
Mesmo que Você não me ame.
Carregarei menos bagagem
Levarei só o que importa.
Comerei sem restriçâo
Porque nada disso adianta,
Morrerei um dia
Que seja então do coração.
Se viver outra vida
viverei apenas o momento
Aproveitarei o sentimento
Pois é tudo ilusão.
A vida passa em um segundo
E quando fui ver estive preso a um grilhão
Tudo que vivi foi em vão.
Caminhei a esmo,
Olho para trás e não vejo a mim mesmo
Perdido no meio da multidão.

Danilo Otoch.

Ao Cupido Atrapalhado.

Meu Cupido desleixado
Burro, atrapalhado.
Aponta sua seta
Para todo o lado,
Sempre erra o alvo
E me deixa assim
Em tristeza sem fim.

Cupido incompetente
Ouça o que desejo
Quero um homem decente
Que seja bom de beijo
Que me trate com carinho
E que saiba o que é estar sozinho
Para que a mim dê valor
E me regue como uma flor,
Que me cultive e colha de mim
Os melhores frutos, os já maduros
Plenos de sementes que plantadas
Frutifiquem em amor.

Não quero um príncipe encantado
Em armadura reluzente
Quero alguém do meu lado
Que na noite fria me esquente.
Cupido não peço muito
Apenas mais cuidado,
Meu coração despedaçado
Não aguenta sua falta de mira
Quanto mais vc atira
Mais tenho medo que me fira.

Danilo Otoch

À  Ioni Faissal.

Soneto da Maria.

Maria voz de timbre sensual
Rouca de paixão, rouca de amor.
Maria pequena, suave, mortal
Cheia de vida, cheia de calor.

Maria amiga toda especial.
Não há na vida o que lhe faça mal,
Somente aluns desagrados passageiros
Que o que tem de vazios, tem de ligeiros.

Ah Maria, estreito-lhe em meus braços
E juntos caminhamos
Examino-lhe os traços

E percebo o quanto sonhamos.
A única coisa que vale é a solidez dos laços
E ver que sozinhos não estamos.

Danilo Otoch

À  Maria Camargo.