sexta-feira, 11 de março de 2011

Semblante.

Onde esta minha verdadeira face?
Eu não era assim.
Não tinha esse rosto e esses olhos,
Não tinha essas rugas
Nem esse vinco de preocupação eterna
Em minha testa.
Onde estarão meus sorrisos
Que um dia já foram fartos?
Meus lábios nunca foram tão duros
Nem meus olhos tão baços,
Tão cheios de lágrimas.
O que me aconteceu?
Tornei-me mais um daqueles semblantes
Em desespero, que flutuam entre
Ombros caídos
Arrastando os pés em um caminho
Sem sentido?
Quanto mais desse tempo lento
Será necessário para meu resgate,
Para meu retorno?
Já que tudo se resume em tempo
E bem pouco de esperança.

Todo o resto que sobra, são apenas os motivos.

Danilo Otoch.

terça-feira, 1 de março de 2011

Fragmentos.

Olhos fundos como lagos
                      Rasos d'agua.
Seus olhos
                     Verdes,
Meus olhos
                     Castanhos,
Não misturam mais suas matizes.
Visão monocromática
                     Da solidão.
Olhos, muitos olhos
Faces, muitas faces
                     Em espelhos
Gerando mais faces
                     Em reflexos.
Gestos brutos, fragmentos de vidro.
                     Brigas.
Lágrimas insípidas e incolores
                     De nossos olhos.
Mágoas, muitas mágoas.
Lágimas, muitas lágrimas.
                     Um único adeus.
E o tempo que não se acaba,
                     Cobrindo de poeira
Nossos antigos fragmentos.
                     Tempo, muito tempo
Que passa devagar.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Meus Desejos.

Para a Monica eu desejo amor;
Para a Anna Lúcia, velhos;
Para a Magda, Luz;
Para o Leandro, sucesso;
Para o Armando, dinheiro;
Para a Fernanda, calma;
Para a Maria, filhos;
Para a Andrea, Bruno;
Para o Tatau, música;
Para a Marina, vida;
Para meus avós, tempo;
Para minha mãe, paz;
Para o Brasil , futuro;
Para o meu pai, presente;
Para quem tem amnésia, passado;
E para quem não gosto,
Eu não desejo nada.
Porém,
Para quem casa eu desejo prosperidade;
Para quem espirra, saúde;
Para o mendigo, abrigo;
Para a criança, escola;
Para o mundo, verde;
Para a atmosfera, ozônio;
Para quem se foi, boa viagem;
Para quem ficou, pesames;
Para quem briga, conciliação;
Para quem merece, perdão;
E para ninguém, morte;
Para os desesperados, esperança;
Para quem procura, encontro;
Para quem começa, sorte;
Para quem deseja, tudo;
Para quem já tem tudo, caridade;
Para quem é diferente, compreensão;
Para quem quer ser, coragem;
Para quem adia, decisão;
Para o muito afoito, paciência;
Para o filósofo, verdade;
Para o vigia noturno, sono;
Para o sacerdote, Deus;
Para o crente, paraíso;
Para o charlatão, cadeia;
Para o culpado, remorso;
Para quem eu amo, carinho;
Para todo mundo, felicidade;
E para mim mesmo,
Eu só desejo Poesia.

Danilo Otoch.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Convite ao Choro.

Eu vou chorar e te convido
Vou chorar por causa dos professores
Espancados em sala de aula,
Sem ter a quem recorrer
Sem poder se defender.
Vou chorar pelos menores abandonados
Abusados, viciados, ameaçadores
Com seus canivetes afiados roubando para comer.
Choro pelas vítimas das enchentes
Desabamentos, atropelamentos
Pela mulher que dá a luz no coletivo.
Choro por cada pedra de crack
Que transforma em zumbi um mendigo
Menos favorecido.
Derramo lágrimas e não me controlo
Quando vejo a fila dos hospitais,
As cadeias lotadas
O povo espremido nos trens
E carros vazios nas ruas.
Choro pelo desmatamento,
Pelos crimes sem solução
Choro pela corrupção.
As balas perdidas, a violência policial
Choro pela burocracia, ineficiência
A Justiça negada
Pelo aparelho estatal
As Leis não cumpridas
As brigas de torcidas.
Choro porque ninguem faz nada
E acabo chorando sozinho.
Choro pelo PIB em crescimento,
Pelo tal do pré sal.
Choro e te convido meu irmão
Chore junto comigo
Até que o choro vire grito
Exigindo reparação.

Danilo Otoch.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Fachada de Pedra.

Eis-me aqui
Uma fachada de pedra
Esculpida a cinzel.
Duro, frio, silencioso
Pouso para pombos
E seus dejetos.
Não cometi ato heróico
Ou feito memorável.
Apenas vivi uma vida humana
Que me transformou em matéria dura,
Matéria escura,
Que machucou as mãos do escultor.
Aos meus pés choram viúvas
Acendem velas e me rogam.
Mas não há mais homem dentro de mim.
Habitam certezas imutáveis
E dores, muitas dores, dores sem fim.
O homem que havia se foi
restou a rocha formatada
Granítea,
Que não mais se comove,
Que não mais se move,
Que não mais estende a mão.
Esculpido de olhos cerrados
Não vejo mais nada
De boca fechada
Não falo mais nada.
Já me bastam as lembranças.
Eis-me aqui uma fachada de pedra
Corroendo sob a chuva ácida
Desejando apenas o esquecimento
Que só o tempo trará.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

O Homem Errado.

O homem errado é que é o certo
O que não é perfeito, o que é esperto.
O que me trata daquele jeito
O que me pega forte com uma mão
Tomando as rédeas da situação.
O homem errado me tira do deserto
E me põe em um vulcão.
O homem errado não é um príncipe encantado
É o homem que vai ficar do meu lado
Errando comigo em todo a situação.
Quero um homem errado
Um que me arranque suspiros apaixonados
Que me diga palavras velhas como se fossem novas
Que me arrepie a pele, que não me dê provas
Quero um homem que me vire a cabeça
Me tire os pés do chão.
Rogo que isso logo aconteça.
Quero um homem errado
Que me tire dessa desatenção
Um homem que mesmo que seja errado me ame,
Mais que isso,
Não quero não.

à Ana Claudia Uchôa.

Danilo Otoch.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Mal Nenhum.

Eu sei o que dizem do Amor.
Mas será verdade a pregação
Negativa do fim do relacionamento?
Que ficando sozinhos estamos seguros
E nos livramos do querer mútuo
Que chamam doentio?

Eu sei que criticam a entrega,
Logo o que acho mais bonito,
E a finitude do relacionamento; mas
Será isso argumento para ser infeliz
Todo o tempo, em vez de gozar
Nem que sejam por momentos,
A felicidade?

Não me importa o tempo, se agora quero
Estar contigo, te abraçar e fazer Amor,
Que mal há em querer que isso dure,
Mesmo iludido, para sempre?
Se quando faço Amor tenho quatro mãos
E duas cabeças, esqueço de tudo do céu e do inferno
E até da morte.
Que mal há em querer prolongar, repetir
Ou apenas ficar junto
Sentindo teu coração bater uníssono com o meu
E respirar do mesmo ar?

Talvez até esteja errado
Por não conseguir entender
Porque tanto medo do outro
Que devia ser amado,
Ou talvez por não ver o perigo
Que dizem existir.
Mas não posso ir contra a minha natureza.
Não gosto de estar só
E não vejo mal nenhum nisso.

Danilo Otoch.